A aula terminou e depois de despedir dos meus novos amigos, avistei do outro lado da rua o carro da minha mãe. Ela estava lá me esperando e com aquele sorrisinho dela que eu conhecia bem.
- pelo jeito fez novas amizades né?
- fiz sim mãe. São pessoas super legais.
Em casa almocei com a minha mãe e meu pai e fui deitar. Cheguei no meu quarto, tranquei a porta, liguei o PC e coloquei musica. Deitei na minha cama e comecei a lembrar do meu primeiro dia de aula. Como era de se esperar, logo Felipe tomou conta dos meus pensamentos. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Eu não podia estar apaixonado por aquele garoto. Devia estar apenas impressionado com a beleza daquele garoto. Só isso. Eu tinha que tirar aquela loucura da minha cabeça. Tentativas em vão. Adormeci com aqueles pensamentos.

                                        

Bom, meu nome é Thalles, tenho 16 anos, sou loiro, olhos verdes, 1,75 de altura e moro em Dourados – MS com meus pais. Meu pai trabalha de vendedor de carros em uma concessionária de grande marca. Minha mãe trabalha fazendo vestidos para festa, em casa enquanto cuida dos afazeres do lar. Sou filho único, porem a falta de um irmão não me faz muita diferença, pois estou sempre rodeado de amigos, em especial o Gabriel, que para mim é considerado como um irmão, e tenho uma namorada chamada Yasmin, na qual passo junto a maior parte de meu tempo livre.
Levo uma vida considerável normal para um garoto da minha idade. Eu estudo, namoro, jogo basquete, adoro escutar musicas e assistir filmes.
Estávamos na ultima semana de janeiro e eu voltava de férias da casa da minha tia em santa Maria – RS. Longe desde o natal, eu sentia muita saudade dos meus pais, amigos e em especial a minha namorada. Quando cheguei ao aeroporto de Campo Grande, peguei um taxi e fui para a rodoviária para pegar o ônibus para Dourados. No caminho, liguei para Yasmin para matar um pouco da saudade.

- oi amor
-oi Thalles, já chegou?
- ainda não, estou em Campo Grande esperando o ônibus para ir pra ai. Vou chegar por volta das sete da noite.
- quer que eu peça pro meu pai para ele te buscar na rodoviária?
- não precisa amor, meu pai vai sair do serviço e vai me buscar.
- ta bom, você vai vir me ver hoje. Preciso conversar com você.
- é claro, to morrendo de saudades de você. Amor, o ônibus ta chegando, tenho que ir.
- beijos. Boa viagem.
- obrigado. Beijos! Te amo!

A viagem seguiu normal. O caminho todo eu pensava nas minhas férias e na ansiedade que eu tava para chegar e encontrar com a minha namorada. Depois de quatro horas cheguei na cidade e logo liguei para o meu pai. Depois de 10 minutos meu pai chega.
- meu filho, saudades de você. Como foi a viagem?
- cansativo pai, mas valeu à pena. Todos mandaram lembranças. Confesso que queria vir logo pra casa, tava com saudades demais de vocês e da Yasmin.

- ela sumiu por esses dias, não foi em casa nenhuma vez.
- estranho, mesmo eu não estando em casa ela sempre vai visitar vocês. Chegando em casa eu vou tomar um banho e vou na casa dela.
- vai depois do jantar. Há um assunto que eu quero conversar com você e sua mãe.
- alguma coisa seria?
- no jantar conversamos.
Chegamos em casa e logo fui amassado pelos abraços e carinhos da minha mãe. Parecia que eu tinha ficado um ano fora, nos seus olhos um brilho brotava junto a uma lagrima que caia.
- deixa o menino respirar mulher.
- me deixa Arthur, quero matar a saudade do meu filhinho querido.
- calma mãe, to aqui já – dizia eu com sorrisos
Todos riram. Tomei meu banho e fiquei vendo a minha mãe terminar o jantar. Eu estava ansioso para o meu pai contar logo a noticia e me liberar para ir pra casa da Yasmin. Depois de alguns longos minutos, o jantar finalmente saiu e assim que terminou tratei de apressar meu pai.
- pai, conta a novidade logo.
- calma apressado, vou contar. Fui chamado hoje pelo dono da empresa e ele me ofereceu o cargo de gerente geral da empresa.
- nossa pai, que legal. – eu realmente estava feliz por ele, afinal era o cargo mais importante, perdia apenas para o dono da empresa.
- mas tem um porém, esse cargo é para mim ocupar na nossa filial em Campo Grande. Isso significa que teremos que nos mudar logo.
- mas pai, como eu fico? Meus amigos, a Yasmin?
- você poderá vir visitá-los sempre e tenho certeza que você arrumará amigos novos lá. Não posso desperdiçar essa chance. O cargo é ótimo e o ganho vai ser maior ainda.
- amanhã vou à escola pedir a sua transferência. – eu já podia notar que minha mãe estava alegre com a noticia, mas o medo de me ver sofrer fez ela se controlar.

Sai da mesa e fui pro meu quarto e comecei a chorar. Não queria me mudar, não queria abandonar meus amigos e principalmente, não queria ficar longe da minha namorada. Eu estava sem animo e não queria conversar com ninguém, até me esqueci que ia à casa da Yasmin. Depois de tanto chorar eu adormeci. No outro dia, acordei disposto a abandonar tudo e ficar aqui, para não ficar longe da pessoa que eu amo. Me arrumei e fui para a casa da Yasmin. A casa dela era um pouco longe da minha, fiquei uns 40 minutos dentro do ônibus até chegar lá. No caminho eu pensava em como eu daria a noticia a ela. Ao chegar logo a chamei, e ela saia da sala da casa dela para abrir o portão pra mim. Notei que ela estava com uma expressão séria, mas com um olhar de tristeza. Como eu já a conhecia bem, eu sabia que ela estava tentando me dizer algo que não ia me agradar.
- nossa amor, tava morrendo de saudades, desculpa não vir aqui ontem a noite, mas aconteceram alguns problemas em casa. – ela estava imóvel em frente ao portão, muda e aquela expressão no rosto que só tendia a piorar- Não mereço nenhum beijo? Ta acontecendo alguma coisa?
- Thalles, a gente precisa conversar.
Quando olho em direção a porta da sala, vejo o Gabriel parado nos observando. Ao notar que eu já tinha visto ele, ele veio caminhando em nossa direção, com a cabeça baixa, com medo de me olhar nos olhos.
- credo, eu passo um mês fora e quando volto vocês estão estranhos. O que ta acontecendo? Morreu alguém?
- Thalles – senti a Yasmin suspirar um pouco antes de falar. - eu quero terminar o nosso namoro.
- o que? Mas por quê? – confesso que fui pego de surpresa.

- há um tempo eu e o Gabriel estava afim um do outro, mas em respeito a você nunca fizemos nada. Até o ano novo. Na virada do ano, resolvemos fazer uma festa aqui em casa e convidamos todos os nossos amigos. No meio da festa acabamos ficando e desde esse dia nos encontramos todos os dias. Não queria que fosse assim Thalles, mas quem consegue mandar no coração né? Juro que eu não queria te enganar, mas a atração foi mais forte. Me desculpa?
As palavras dela entravam como facas em meu coração. É difícil demonstrar a sensação que senti quando soube que fui duplamente traído, pela minha namorada e meu melhor amigo. A sorte deles era que eu não andava armado, pois naquela situação, a desgraça em minha vida começava ali, dois mortos e um novo presidiário... Hehehehe. Podia não ter uma arma, mas meu olhar fuzilava os dois ali mesmo. Com um pouco de coragem que ainda me restava de ficar ali, olhei para o Gabriel e comecei a falar:
- achei que éramos irmãos. Sempre confiei em você, nos dois, e você me trai assim do nada. – meu corpo começou a tremer de raiva e um ódio começou a tomar conta de mim. – PORRA, VOCÊS ACABARAM COMIGO.
- desculpa cara... – Gabriel já me olhava com lagrimas caindo de seus olhos.
- CALA A BOCA. – parei, respirei um pouco e com mais calma comecei a falar – não quero mais saber de vocês dois na minha vida, agora tenho uma noticia boa para os dois, eu vou sumir daqui e vocês poderão viver a vida de vocês a vontade. Agora poderão se fuder sozinhos.
Sai e fui andando em direção ao ponto de ônibus, na metade do caminho senti uma mão em cima de meu ombro.
- espera Thalles, por favor, mano, me perdoa? – Gabriel já chorava muito.
- perdoar? Você tem noção do que me fez? Isso não tem perdão. Se ainda tem respeito pela amizade que um dia tivemos, o que eu acho difícil, some da minha vida. Não conversa mais comigo. Volta lá pra ela, os dois se merecem.

Deixei Gabriel paralisado lá no meio da rua e continuei meu caminho até o ponto de ônibus. Depois de um longo caminho, cheguei em casa e topei logo com o meu pai, que esperto como sempre, logo notou a minha cara de tristeza.
- filho, eu sei que é difícil o que você ta passando, por isso eu conversei com a sua mãe e decidimos que se você quiser, pode ficar aqui morando com a sua avó e nos visitar assim que quiser.
- não pai, eu quero ir junto sim, só me faz um favor. Ajeita essa mudança logo.
- aconteceu alguma coisa?
- digamos que não tenho mais motivos para estar aqui.
Logo os dias passarão, minha tristeza só aumentava. Duas semanas depois estávamos descarregando os moveis na casa nova, na cidade nova, na vida nova. Apesar da sensação de tudo novo, eu não podia imaginar que logo a minha vida iria mudar completamente. O final de semana foi corrido, nunca pensei que mudança era tão cansativo assim. Já era a noite de domingo e após organizar algumas coisas resolvi dar uma volta para conhecer o bairro. A casa ficava em uma área central, então pude notar que ali havia poucas casas e muito mais escritórios. O local era silencioso, calmo e para a minha infelicidade, poucos jovens.
-é só me resta a escola amanhã mesmo. – pensei um pouco.
Fui para a minha casa descansar depois de mais um dia longo e cansativo. No dia seguinte, acordei as 06h00min da manhã e fui direto pro meu banheiro tomar banho. Depois de uns 20 minutos eu saio e fui me arrumar para o meu primeiro dia de aula. Escolhi minha calça jeans escura, minha pólo branca e um tênis branco. Voltei ao banheiro, penteei meu cabelo e depois o baguncei um pouco – pronto assim ta melhor. – e voltei ao meu guarda roupa. Passei meu perfume Egeo e desci para tomar meu café.
Meu pai já estava pronto e me aguardando para levar a escola.
- vamos que você vai se atrasar, você entra as sete.
- eu sei pai. – tomei meu café e logo o apressei com um tom sarcástico. – vamos pai, vai querer me fazer chegar atrasado na escola?
- olha o respeito rapaz.

Dei um beijo na minha mãe que só ria das minhas brincadeiras e fui esperar meu pai tirar o carro da garagem. No caminho eu estava pensativo. Como seria meu primeiro dia de aula? Será que eu faria amigos novos? Afinal, as aulas já tinham começado há uma semana e eu odiava ser o centro das atenções. Duvidas e mais duvidas pensamentos que foram quebrados com a voz do meu pai quase gritando.
- vamos Thalles, não posso ficar aqui o tempo todo atrapalhando o transito. Pega as suas coisas e desce.
- Obrigado simpatia... Hehehehe.
Cheguei faltando dez minutos para o começo da aula. Aquele colégio era enorme. Muitas salas e eu perdido tentando achar a minha. Depois de um tempo andando pelo colégio todo, tropecei e esbarrei em uma moça.
- desculpa moça, tava distraído...
- procurando algo?
- sim, a minha sala.
- qual é?
- 3° B
- bem vindo a minha sala, vem comigo. Eu sou Caroline, mas pode me chamar de Carol. E você?
- Thalles.
Fiquei olhando aquela garota, ela era linda, branca, cabelos castanhos e olhos verdes. Uma simpatia incrível. No meio do caminho, eu olho para o lado e vejo uma copia dela, um clone vindo em nossa direção, e antes mesmo de eu falar, ela logo diz com um sorriso no rosto:
- sim somos gêmeas, essa é a minha irmã Isabela.

As cumprimentei e logo seguimos os três em direção a sala. Ao entrar as duas já me arrastaram onde elas se sentam e me apresentaram seus namorados que também eram da mesma sala e estavam ali as esperando. Caroline começou as apresentações.
- esse é o Jefferson, meu namorado e esse é o Vinicius, meu cunhadinho, namorado da Isabela. E pessoal esse é o Thalles, vai estudar aqui com a gente.

Apresentações a parte. Começamos a conversar antes de começar a aula, já que o professor estava atrasado. Eu dizia a eles de onde eu era, por que tinha me mudado, essas coisas... mas nossa conversa foi interrompida com a chegada apressada do professor que já nos mandava sentar e começava a passar matéria. Logo a matéria que eu sempre detestei: física. Depois de uns 15 minutos, bate um aluno na porta, o professor com o seu mau humor evidente, pausa a sua aula e vai abrir a porta para o aluno entrar.
- atrasado de novo senhor Felipe.
- desculpa professor, culpa do transito – e logo o rapaz foi entrando sem dar muita atenção ao professor.



Meus olhos não paravam de observá-lo. Ele era lindo. Sua pele branca, cabelos castanhos claros e um olho verde de dar inveja a qualquer um, até a mim que já tenho olhos verdes também. Mas o que mais me chamava a atenção era o seu olhar penetrante, que naquele momento já estavam de encontro ao meu. Ficamos nos observando por algum tempo. Ele parou ao meu lado, cumprimentou as gêmeas e seus namorados e logo estendeu a mão para mim.
- prazer, Felipe.
- prazer, Thalles.
Passamos a aula inteira estudando e no intervalo ficamos conversando. Admirei-me por fazer amizade tão rápida, afinal sempre fui tímido. Mas uma coisa eu ainda achava estranho. A imagem do Felipe não saia da minha cabeça. Ao pensar nele uma sensação tomava conta de mim. Sensação essa que só senti no dia em que eu conheci a Yasmin. Ao lembrar-se dela, sentia que eu não tinha mais tristeza e que ela não passava de uma lembrança do passado. Estranhei mais ainda o fato de eu esquecer ela assim tão rápido. Mais uma vez a imagem de Felipe não saia da minha cabeça. Por que eu o achava tão lindo?

A aula terminou e depois de despedir dos meus novos amigos, avistei do outro lado da rua o carro da minha mãe. Ela estava lá me esperando e com aquele sorrisinho dela que eu conhecia bem.
- pelo jeito fez novas amizades né?
- fiz sim mãe. São pessoas super legais.
Em casa almocei com a minha mãe e meu pai e fui deitar. Cheguei no meu quarto, tranquei a porta, liguei o PC e coloquei musica. Deitei na minha cama e comecei a lembrar do meu primeiro dia de aula. Como era de se esperar, logo Felipe tomou conta dos meus pensamentos. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Eu não podia estar apaixonado por aquele garoto. Devia estar apenas impressionado com a beleza daquele garoto. Só isso. Eu tinha que tirar aquela loucura da minha cabeça. Tentativas em vão. Adormeci com aqueles pensamentos.




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