- Vamos, Thalles, estamos atrasados.

- espera! - Yasmin pegou a minha mão e me puxou, fiquei com um de cada
lado me puxando. Yasmin enquanto pegava a minha mão, notou que eu usava uma
aliança. - Essa aliança é do que eu to pensando?

- sim, é de namoro. - disse friamente e um pouco grosso.

- isso quer dizer que você não me ama mais? - seus olhos no momento se
encheram de lágrimas.

- você esperava o que? Que eu passasse a vida inteira chorando pela
sua falta, carregando o peso do chifre? Espera mesmo que depois de tudo o que
aconteceu, eu voltaria pra você, quando você estralasse o dedo, igual a um
cachorrinho?

- mas Thalles...

- eu ainda não terminei. Sofri muito depois de tudo o que aconteceu,
não vou mentir. Mas hoje? Hoje eu só tenho rancor quando eu lembro o que
aconteceu. Posso ser corno, mas trouxa eu não sou, Yasmin, eu não volto pra
você.

- eu terminei com o Gabriel por sua causa, por que sinto a sua falta.

- terminou por que quis! Agora é tarde demais, eu não to mais nem ai
pra vocês dois. Ta vendo isso? - levantei minha mão e mostrei minha aliança. -
a fila andou e você ficou pra trás. Se você ainda tiver um pouco de vergonha na
cara, quando passar por mim, finge que não me conhece.

- Yasmin?!?!

- Oi Thalles, tudo bom gatinho?

- não. O que você ta fazendo aqui?

- to visitando uma prima minha.

Virei-me e vi que o Felipe estava muito bravo com a presença da Yasmin
ali. Os outros prestavam atenção enquanto pagavam as compras. Eu não queria
conversar com a Yasmin, e antes de ela falar mais alguma coisa, fiquei de
costas pra ela e sai em direção à porta junto com os outros, mas fui impedido
por uma mão puxando o meu braço.

- Espera Thalles, vamos conversar?

- não temos nada pra conversar, Yasmin.

- sei que está bravo comigo, mas eu preciso te dizer que eu terminei
com o Gabriel.

- não, você não precisa.

- Eu ainda gosto de você.

- sério? - perguntei ironicamente - e você espera que eu diga o que?

- volta pra mim, por favor? Eu ainda te amo.

Agora sim eu estava confuso, aquilo me pegou de surpresa. Eu não podia
responder aquilo, sem dizer uma só palavra, puxei meu braço a fazendo soltar.
Felipe que já não agüentava mais aquela cena me pegou pelo o outro braço e
começou a me puxar.

- Vamos, Thalles, estamos atrasados.

- espera! - Yasmin pegou a minha mão e me puxou, fiquei com um de cada
lado me puxando. Yasmin enquanto pegava a minha mão, notou que eu usava uma
aliança. - Essa aliança é do que eu to pensando?

- sim, é de namoro. - disse friamente e um pouco grosso.

- isso quer dizer que você não me ama mais? - seus olhos no momento se
encheram de lágrimas.

- você esperava o que? Que eu passasse a vida inteira chorando pela
sua falta, carregando o peso do chifre? Espera mesmo que depois de tudo o que
aconteceu, eu voltaria pra você, quando você estralasse o dedo, igual a um
cachorrinho?

- mas Thalles...

- eu ainda não terminei. Sofri muito depois de tudo o que aconteceu,
não vou mentir. Mas hoje? Hoje eu só tenho rancor quando eu lembro o que
aconteceu. Posso ser corno, mas trouxa eu não sou, Yasmin, eu não volto pra
você.

- eu terminei com o Gabriel por sua causa, por que sinto a sua falta.

- terminou por que quis! Agora é tarde demais, eu não to mais nem ai
pra vocês dois. Ta vendo isso? - levantei minha mão e mostrei minha aliança. -
a fila andou e você ficou pra trás. Se você ainda tiver um pouco de vergonha na
cara, quando passar por mim, finge que não me conhece.

Deixei-a chorando na porta do supermercado e fui embora. Aquela
situação no supermercado tinha me deixado aliviado por poder colocar pra fora
tudo aquilo que me atormentava durantes os meses que se passarão, mas esse
alívio passou quando me peguei pensando se o que eu tinha feito com a Yasmin
foi certo. Será que eu fui muito grosso e estúpido com ela ou o que eu fiz foi
certo? No carro, o Felipe estava em um canto, olhando para a janela do carro
vendo o tempo passar em um silêncio profundo e uma expressão visível de raiva.
A única conversa no carro resumia-se entre o Jefferson e o Pietro. Certo
momento antes de chegar a casa, meus pensamentos foram interrompidos pelo
Pietro.

- Thalles, sua ex é muito gostosinha.

- quer ela de presente? Vai até com papel de embrulho. - disse eu
entre risos

Começamos a dar risada, mas o único que ainda continuava quieto era o
Felipe. Chegando à casa, chamei ele para conversarmos na área da frente da
casa.

- o que foi amor? Por que essa cara fechada ainda?

- você sabe por que, né? Eu não preciso responder.

- você estava do meu lado amor, você viu a conversa que tivemos o que
eu joguei na cara dela. Para com essa marra.

- por que você hesitou em falar algo quando ela disse que ainda te
amava? Você ainda pensa em voltar para ela?

- Felipe, você não escutou nada o que eu disse a ela? Fiquei surpreso
sim, pelo o que ela me disse, mas dai a voltar pra ela, não tem a menor chance.

- Desculpa você sabe que eu tenho muito medo de te perder.

- deixa disso, vamos esquecer essa historia e vamos nos divertir. O
pessoal tá todo lá esperando pra comemorarmos nosso último dia de feriado. Vem,
e para de pensar besteira. Dei um longo beijo nele e voltamos para a área da
piscina.

O domingo passou normal, nos divertimos muito e aproveitamos bem o
dia. Alguns momentos eu vi que o Felipe ainda continuava chateado com o que
tinha acontecido, mas eu o entendia, não era fácil ver aquela cena. No final da
tarde, a Laura e o Lucas apareceram lá para nos buscar e assim acabava nosso
feriado ali em Bonito.

Sem dúvida, aquele feriado se tornou inesquecível a todos. Foi
incrível estar em uma cidade nova, conhecendo lugares lindos e incríveis, sem
contar nas festas e, óbvio, os amigos novos que fizemos. Esses amigos iriam
deixar muita saudade, mas prometemos manter contato e assim que pudéssemos, nas
férias, voltaríamos àquele lugar e ficar mais tempo. A despedida foi o ato mais
difícil de realizar, muito choro e abraços aconteceram principalmente ao Raffa
que já tinha se apegado a Patrícia. Depois da despedida, entramos no carro
Felipe, Raffa e eu fomos no banco de trás e a Laura e Lucas no banco da frente.
Aquelas férias tinham feito mais gente feliz além de nós, pois o Lucas já
estava com um sorriso lindo e magnífico no rosto, por um momento até esqueci
que aquilo tudo era encenação. Laura passou o caminho todo perguntando a nós
como foi o feriado, e nós comentávamos e muitas vezes falando sobre situações
engraçadas que arrancava sorrisos de todos no carro. Um momento, Lucas olha
para trás e nota na mão do Felipe a aliança, e seu rosto lindo e alegre deu
lugar a uma cara de ódio e rancor, seus olhos pareciam me fuzilar pelo
retrovisor. O resto da viagem ele passou de cara virada, fazendo até sua mãe
desconfiar.

Chegando a Campo Grande, a Laura resolveu deixar primeiro o Raffa na
casa dele, pois era a mais perto e depois me levaria na minha casa. Chegando em
casa, meus pais que já tinha chegado de Dourados, chamaram ela e os meninos
para jantar conosco, como já estava tarde para chegar em casa e fazer janta,
ela aceitou o convite. Descendo do carro, eu e o Felipe tiramos nossas alianças
para não gerar desconfiança de nossos pais e o Lucas me viu fazendo o ato de
guardá-la no bolso. Fiquei por ultimo para fechar o portão e o Lucas ficou
perto de min

- resolveu guardar a aliança?

- sim, algum problema? - disse a ele indiferente.

- não, achei que o namoro tava mais sério.

- agora deu pra se importar com o nosso namoro?

- não. - logo ele saiu e foi encontrar com nossos pais.

No jantar tudo corria normal, conversamos e rimos novamente das
palhaçadas que fizemos na viagem. Meus pais estavam adorando a conversa. Logo
após o jantar, eles resolveram ir pra sala conversar. Na sala, minha mãe
começou a entregar os ovos de páscoa para mim, para o Felipe e até para o
Lucas. Minha mãe adora presentear as pessoas. Quando ela chegou perto com meu
ovo de páscoa da Cacau Show sabor avelã ( que eu adoro), parou e me disse:

- só dou o seu se fizer um favor pra mim.

- ah mãe, não seja má, me da, por favor.

- só se você ir lá no carro pegar a minha bolsa que eu esqueci lá.

- vou correndo.

Deixei-os na sala e fui até a garagem buscar a bolsa dela. Na garagem
estava tudo escuro, não dava nem pra enxergar o carro direito, justo naquele dia
a lâmpada estava queimada. Saí tropeçando em tudo até chegar ao carro. Quando
sai de dentro do carro e fechei a porta, fui pressionado pelo Lucas, me fazendo
ficar encostado entre o carro e ele na minha frente.

- o que você ta fazendo aqui?

- sai dizendo que ia ao banheiro.

- e o que você quer aqui?

- conversar com você.

- Desculpa, mas acho que não há nada pra nós dois conversarmos, ainda
mais aqui nesse escuro.

- fica longe do meu irmão. Você só trouxe problemas na minha família.
Por sua causa eu e meu irmão brigou muito.

- não, peraí, a culpa de vocês terem brigado é sua e não minha. Não
sou eu que to com pensamentos machistas, xingando ele e pior, ameaçando ele e
fazendo chantagens. Você é o culpado disso. E agora resolveu fingir que tá
bonzinho. Não tem vergonha de enganar ele?

- antes de você aparecer, ele era macho e pegava todas, o que era até
motivo de orgulho pra mim, afinal que não gosta de ter um irmão com fama de
pegador. Agora, você o transformou na vergonha da família, você o transformou
num viadinho. Tenho ódio de você.

- você não sabe do que ta falando.

- sei sim. Escuta aqui o que eu vou te falar, ou você se afasta do meu
irmão, ou eu afastarei os dois.

- eu não vou me afastar do seu irmão. Eu amo ele e ele me ama. Não
estraga isso por preconceito besta e desnecessário.

- você não me conhece ainda, Thalles. Acho melhor você se afastar
dele, ou eu serei obrigado a contar aos nossos pais e fazer da vida de vocês um
inferno, e você pode ter certeza que eu farei.

- você não teria coragem de fazer isso.

- não duvida não. Se minha mãe descobre sobre vocês dois, ela
certamente mandará meu irmão para a casa do meu avô no Chile. Ela nunca
aceitará um filho gay. Meu avô é um cara sistemático, já foi general do
exército, certamente Felipe vai sofrer na mão dele. Acredito que você não vai
querer isso pra ele, né?

- por que você ta fazendo isso?

- só quero proteger a minha família e dar o melhor a ela.

- e você acha que isso é proteger ela?

- não te interessa. Já te avisei, fica longe dele o mais rápido
possível, ou eu conto tudo. E nem pense em contar para ele.

- o que vocês estão fazendo ai no escuro? - disse Felipe na porta da
garagem tentando nos enxergar.

- já sabe. - finalizou Lucas, indo em direção a saída, onde já estava
o Felipe. Ao passar por ele, apenas sorriu e foi até a sala onde estavam os
nossos pais. Eu ainda continuava ali, parado e imóvel, chocado com aquela
situação. E agora, o que seria?

- Thalles, o que meu irmão tava fazendo aqui? Eu notei que você
demorava demais, vim ver o que tava acontecendo e encontro ele aqui. - indagou
Felipe

Eu não conseguia responder, eu tava ali parado, olhando pro nada,
pensando no que tinha acontecido.

- Thalles, eu to falando contigo. O que meu irmão te disse que te
deixou assim?

- Só veio oferecer ajuda, por causa do escuro. Agora preciso ir. - sai
correndo em direção à saída e deixei o Felipe ali parado sem entender nada.
Chegando à sala, apenas deixei a bolsa da minha mãe para ela e sai para ir pro
meu quarto, e até me esqueci do ovo de páscoa. Quando chego à escada, vi Felipe
chegando à sala e minha mãe me perguntando.

- aonde você vai menino, nem vai pegar o seu ovo?

- depois mãe, agora preciso ir. - sai subindo as escadas correndo
deixando todos ali, inclusive o Lucas, que eu ainda pude perceber um sorriso no
rosto. Notei que o Felipe também subia as escadas pra tentar me alcançar, mas
fui mais rápido, entrei no meu quarto e fechei a porta.

- Thalles, abre essa porta, por favor, me conta o que ta acontecendo?

- nada, Lipe, só preciso ficar um tempo sozinho.

- poxa cara, ta me deixando preocupado. O que aconteceu?

- não é nada, Lipe, eu só preciso ficar um tempo sozinho. Amanhã
conversamos, por favor, me deixa.

Felipe sabia que eu não iria abrir aquela porta, por isso não insistiu
mais e desceu para ir embora.

Eu estava confuso e com muito medo. Eu sabia que o Lucas podia cumprir
com a ameaça, ele sentia ódio de mim e não tinha nada a perder. Nessa história,
o único que tinha a perder era eu, eu perderia o Felipe. Não queria terminar
com ele, mas não podia deixar que nossos pais descobrissem e a Laura mandasse
Felipe para a casa do avô militar no Chile. Seria pior não ter ele ali do meu
lado. Eu sabia que tinha que tomar uma decisão, mas não sabia como, realmente o
Lucas parecia ter planejado tudo. Já era tarde e eu tinha aula no outro dia,
por isso precisava descansar e dormir, embora eu estivesse cansado da viagem, e
não conseguia dormir com aqueles pensamentos na minha cabeça. Liguei o meu PC e
entrei no MSN para ver se encontrava alguém online que pudesse me ajudar. Para
a minha sorte o Lippe estava online e com ele eu pude desabafar. Contei tudo
sobre a ameaça do Lucas e o que eu poderia fazer. Infelizmente esse assunto era
complicado demais, e uma decisão ali seria muito difícil, mas os dois sabiam
que o melhor a fazer seria pensar no melhor para o Felipe. Despedi do Lippe e
fui deitar para dormir.

No outro dia acordei com meu celular despertando, a musica como sempre
era Swedish House Mafia feat Pharrell - One, levantei, tomei meu banho,
arrumei-me e desci para tomar café. Na cozinha estava meu pai e minha mãe.

- Bom dia, filho. - disse minha mãe com um olhar preocupado

- Bom dia, mãe. Tem suco?

- ta na geladeira. O que aconteceu ontem à noite?

- nada mãe. – respondi a ela, enquanto eu pegava meu suco de morango
na geladeira. Eu não queria que aquela conversa prolongasse, mas foi
inevitável.

- como assim nada? Recusou até o ovo de páscoa que eu comprei pra
você. E por que o Felipe ficou triste?

- isso eu não sei mãe, deve ser coisa dele. Enquanto ao ovo, eu não
recusei, assim que eu chegar do colégio vou devorar ele todo.

Meu pai não prestava atenção em nossa conversa, pois sua atenção
estava voltada ao jornal. Ele estava sentado beira a mesa e lendo a pagina de
esportes. Eu comecei a servir meu copo de suco e levo um susto quando o
interfone toca. Em um movimento eu bati a jarra no copo, derrubando-o e
molhando a toalha da mesa e a camisa branca do meu pai, com o suco de morango.

- poxa, Thalles, presta mais atenção meu filho, me molhou todo. Agora vou
ter que ir lá trocar de roupa, caramba, molhou até a minha calça. Tem que
aprender a ter mais atenção no que você ta fazendo, guri.

- Desculpa pai, foi sem querer.

- sem querer não, falta de atenção no que ta fazendo. Agora vai chegar
os dois atrasados por sua causa. Tira essa toalha e limpa antes de cair no
chão, anda guri. - dizia ele enquanto saia da cozinha para ir ao quarto dele.

Assim que ele saiu pela porta, o Felipe passa por ela, me olhando
assustado tentando entender o que tinha acontecido.

- o que você fez? - perguntou ele todo curioso.

- derrubei suco na mesa.

- que ajuda?

- não, não precisa não, to terminando.

- e você ta melhor hoje?

- to sim.

Depois disso eu fiquei mudo. Meu pai desceu já nos chamando para ir
pro colégio. No caminho eu não trocava uma palavra sequer com o Felipe ou com o
meu pai. Eu ainda estava confuso, não sabia se eu terminava o namoro com o
Felipe por causa das ameaças do Lucas ou se eu continuava e pagava pra ver se o
Lucas cumpriria com a ameaça. Mas a conseqüência dessa segunda alternativa era
maior. Eu não podia arriscar, afinal, eu não poderia imaginar o conflito na
família do Felipe e pior, vê-lo partir para um país desconhecido pra ficar com
o avô rígido. Tinha muita vontade de contar ao Felipe, mas eu sabia que ele não
acreditaria em mim. Às vezes que eu virava o rosto eu percebia pelo retrovisor
interno que o Felipe, do banco de trás, não parava de me olhar, como se
estivesse tentando ler meus pensamentos. Ao chegar ao colégio, desci o mais
depressa possível, por causa dos sermões do meu pai e pra não ter que ficar a
sós com o Felipe. Eu não podia ali, conversar sobre esse assunto. Quando
chegamos ao portão, encontramos o Raffa, para a minha alegria, não estaríamos a
sós e a conversa teria que ser em outra hora.

Já fazia 15 minutos que o sinal da primeira aula tinha tocado, por
isso teríamos que aguardar até bater o sinal da segunda aula para entrar na
sala. Ficamos lá em baixo conversando os três sobre a viagem, foi aí que me deu
vontade de ir ao banheiro, disse a eles que já voltava e fui ao banheiro.
Chegando lá, entrei em uma das cabines, fiz o xixi básico e quando ia saindo da
cabine, Felipe me esperava do lado de fora, me empurrou para dentro dela de
novo, fechou a porta e começou a me beijar.

Aquele beijo me fez esquecer por um momento o problema que eu tava
passando, e naquele momento eu pude sentir que no mundo era apenas nós dois.
Mas depois de uns dois minutos nos beijando eu o afastei e comecei a falar.

- o que é isso?

- o único jeito que achei de você não fugir de mim.

- Lipe, aqui é perigoso, estamos no banheiro da escola.

- não se preocupa, o pátio tá vazio.

- vamos pra fora, Lipe.

- Não antes de você me contar o que ta acontecendo contigo. Vamos, me
conta.

Eu fiquei sem saber o que fazer, meu silencio foi absoluto. Antes do
Felipe quebrar ele fazendo sua pergunta novamente, o Raffa entra no banheiro
dizendo que tinha um pessoal se aproximando, então resolvemos sair do banheiro
e fomos até a porta da sala porque faltava pouco para o sinal da segunda aula.
No colégio ocorreu tudo normal e no final da aula, fomos até o portão para ir
embora, dessa vez foi a Laura que foi nos buscar. No caminho conversávamos e
quando chegamos perto, o Felipe diz a mãe.

- Mãe, o Thalles vai almoçar em casa hoje, pode?

- claro que pode, filho, vai ser muito bom. - disse a Laura com aquele
sorriso dela.

- acho melhor não, não quero incomodar. - na verdade eu não queria ter
que me encontrar com o Lucas.

- imagina meu anjo, não vai ser incomodo não. Vamos lá, só liga na sua
casa avisando.

Sem escolhas, tive que aceitar depois de muito o Felipe insistir.
Chegando à casa dele, entramos e encontramos na cozinha a empregada da Laura e
o Lucas conversando. Felipe foi avisando ao irmão a minha visita.

-Lucas, temos visita pro almoço hoje, não vai cumprimentar o Thalles?

-Opa, é claro, oi, Thalles. - Dizia Lucas me abraçando com força e uma
alegria e simpatia incrível. Às vezes me pergunto como ele conseguia ser tão
falso? Tudo parecia tão verdadeiro que às vezes eu até esquecia que era tudo
encenação.

Enquanto preparava a mesa para o almoço, Lucas ficou de um lado do
balcão mexendo no celular como se estivesse conversando com alguém ou digitando
algo, Felipe ia colocando os pratos e a Laura estava na área do fundo
conversando no celular.

Almoçando, começamos a conversar sobre a viagem ainda e sobre como
seria a semana, projetos da Laura na loja dela e da minha mãe. Em um momento o
Lucas pega o celular dele, enfia debaixo da mesa com pressa pra ninguém
perceber, claro que eu vi e estranhei muito, mas logo depois fui descobrir por
que. Meu celular anunciou a chegada de uma mensagem, parei meu almoço e fui ler
e ver de quem era. Quando comecei a ler, tenho certeza que fiquei branco na
mesma hora. Assim era a mensagem:

" Já vi que ameaças não adianta contigo né? ultimo aviso, se você
não quiser que a conversa tome outro rumo aqui nessa mesa, acho melhor pegar as
suas coisas e ir embora agora mesmo. Lucas."

Ao terminar de ler a mensagem, apenas olhei para o Felipe que já me
olhava estranho e resolvi me retirar dali mesmo.

- preciso ir.

- termina o almoço primeiro, Thalles. - disse Laura espantada com a
minha reação.

- Desculpa o incômodo, Laura, mas preciso ir.

Quando ia me retirando da cozinha, ainda pude escutar ela perguntando
se tinha acontecido alguma coisa grave, mas a deixei sem resposta. Passei
correndo na sala, peguei a minha mochila e fui até o portão, mas antes de
conseguir sair, Felipe segurou o meu braço me impedindo de sair.

- o que é isso, amor? Por que você ta assim?

- Não devia ter vindo, desculpa. Preciso ir pra casa, amanhã
conversamos.

Tirei o meu braço dele e correndo sai da casa dele e fui para casa.
Chegando em casa, a Maria abriu o portão para mim. Sem ver quem estava em casa,
subi as escadas e fui direto para o meu quarto. Joguei minha mochila em um
canto, deitei na minha cama e comecei a chorar. Mil pensamentos passavam pela
minha cabeça, como o Lucas tinha meu numero? Mas isso era de menos, o que eu
sabia que o Lucas não estava de brincadeira, ele realmente tava decidido em
infernizar a nossa vida se eu não me afastasse do Felipe, e em meio a choros,
decidi que era isso que teria que acontecer. Isso me partiria o coração, mas eu
já estava sem escolhas. Adormeci com meus pensamentos.

Acordei eram sete horas da noite com a minha mãe me acordando. Meu
quarto já estava escuro, ela acendeu a luz e sentou-se na minha cama e começou
a conversar.

- meu filho, ta tudo bem com você?

- sim, mãe, por quê?

- a Maria me disse que você chegou e apenas subiu para o quarto e ta
aqui até agora, sem contar que a Laura me disse que você apenas saiu correndo
da casa dela no meio do almoço. Te conheço, Thalles, sei que ta acontecendo
alguma coisa. Me conta o que ta acontecendo?

Apenas abracei a minha mãe e comecei a chorar, naquele momento era o
que eu mais queria, um abraço dela. Ela, sem entender, mas também sem me
questionar mais, apenas me abraçou e ficou ali, mexendo em meus cabelos,
fazendo carinho, até eu terminar de chorar e soltá-la depois do abraço.

- está melhor?

- estou sim, mãe, obrigado.

- se quiser não precisa me contar agora o que ta acontecendo, mas
promete que se precisar, vai contar pra mim? Não quero te ver assim.

- tá bom, mãe, desculpa não contar agora.

- Tudo bem, agora levanta, toma um banho e desce para jantar tá bom?

- tá bom mãe, já eu desço. ah mãe...

- sim.

- qualquer coisa, só diz que eu to doente, seja pra quem for.

- tá bom, anda logo senão a janta esfria.

Tomei meu banho e desci pra jantar com meus pais. Depois da janta
apenas voltei para o meu quarto e deitei na minha cama tentando esquecer os
problemas, mas era inútil. Não queria saber de mais nada, nem meu PC eu ligava,
apenas fiquei o tempo todo no escuro, deitado vendo o tempo passar. No outro
dia resolvi não ir para escola, eu não estava com ânimo de encontrar o Felipe e
ter que me explicar. Nesse dia, resolvi dormir ate mais tarde. Não almocei e à
tarde eu vi que Felipe estava na minha casa, ele insistiu em bater na porta do
meu quarto, mas não obteve sucesso, pois eu em silencio, apenas escutava e
chorava por estar fazendo aquilo. Nessa rotina, passei dois dias trancado em
meu quarto, com a luzes apagadas, vendo o tempo passar. Na quinta à tarde
começaram a bater novamente porta do meu quarto.

- Abre a porta Thalles, sou eu, Thiago.

Não estava acreditando que ele estava ali, ele era a única pessoa que
eu imaginaria ali depois do que aconteceu na viagem.

- eu sei que você ta ai, abre, por favor.

Abri a porta e pedi que entrasse. Ele entrou e logo foi abrindo as
janelas, e depois de alguns dias eu fui ver a luz do sol.

- o que ta acontecendo com você, amigo?

- apenas tava doente, mas ta passando.

- sem essa, amigo, eu sei que não tem nada a ver com doença e sim
depressão. Minha mãe me disse que há três dias você não vai à escola, que
apenas sai do quarto para beber água, que nem comendo está. To muito preocupado
contigo. O Felipe te fez alguma coisa?

- Não, ele não me fez nada.

- então por que você ta assim, cara? Não gosto de te ver assim.

- Um problema sério.

- por favor, pode contar comigo e você sabe. Se abre comigo.

Eu estava cansado de guardar aquilo comigo, e eu precisava desabafar
com alguém pessoalmente, alguém envolvido e que nos conhece, mas que fosse de
confiança. Naquele momento, o Thiago era a pessoa que eu precisava. Contei tudo
para ele, desde o começo, as ameaças e chantagens e contei até o ultimo
acontecimento. Claro que a reação dele foi de alguém horrorizado com o que
acabava de escutar.

- Caracas, mano, esse Lucas é desgraçado.

- entende agora por que eu estou assim?

- o motivo sim, mas não concordo.

- por quê?

- cara, você não deve cair nessa depressão. Você está realmente
ficando doente por causa disso, olha a sua cara pálida, fraco e sem ânimo. Você
não pode ficar assim. Deve levantar, sair desse quarto e lutar por ele.

- não tem luta, tem rendimento.

- como assim, Thalles?

- Thiago, já decidi, eu não vou prejudicar o Felipe, e se para
mantê-lo aqui e feliz, eu tenha que me afastar dele, vai ser o que eu vou
fazer.

- tem certeza que é isso que você quer?

- não, eu não quero fazer isso, mas é o que eu terei que fazer.

- já sabe o que vai dizer a ele?

- não sei, por isso estou assim também, não posso simplesmente dizer
que eu quero terminar o namoro. Me ajuda?

- sim, mas não sei como.

- nem eu.

- quer dizer, até sei, mas não sei se será viável.

- como assim?

- Thalles, você sabe que eu gosto de você de um modo diferente. Não
quero me aproveitar do seu momento de fraqueza, mas, se precisar, podemos
fingir que estamos namorando, assim será mais convicto para ele aceitar.

- será que isso realmente seria necessário? Isso vai magoá-lo muito e
também não quero me aproveitar do seu sentimento.

- a mim não precisa se preocupar, sou eu que to te oferecendo. Já ao
Felipe, você que decide, mas você sabe que ele não é de desistir assim fácil.

- deixa eu conversar com ele amanhã. Qualquer coisa eu vejo o que eu
faço na hora.

Thiago passou mais um tempo conversando comigo, me fez tomar um banho
e descer para comer alguma coisa junto com ele. O dia passou normal e a
companhia do Thiago já tinha me ajudado muito aquele dia, parecia que eu já
voltava ao normal, as forças voltavam e tudo mais. Embora meu medo de encarar o
Felipe no colégio no outro dia era grande, eu sabia que não podia mais adiar,
então resolvi ir dormir cedo e no outro dia encarar a realidade.

No outro dia, acordei, tomei meu banho, me arrumei e voltei ao
banheiro pra pentear o cabelo. Enquanto eu penteava notava que eu estava com
uma aparência muito ruim, eu ainda estava pálido e com olheiras, falar para os
outros que eu estava doente ia ser a coisa mais fácil do mundo, me olhando
daquele jeito, aposto que ninguém duvidaria, o que me restava era apenas pensar
em que doença seria essa, não dava pra simplesmente dizer que era depressão.
Desci para tomar café. Meus pais estavam na cozinha tomando café e quando me
viram logo começaram o interrogatório.

- como você tá, filho? - perguntou meu pai.

- to bem, pai.

- que bom. Você perdeu muita aula, tem que recuperar logo.

- come alguma coisa, filho. - disse minha mãe.

- não to com fome, mãe.

- mas tem que comer meu amor.

- não consigo comer nada agora.

- leva essa maçã pelo menos, pra se sentir fome mais tarde.

- tá bom.

Meu pai me deixou no colégio e foi para o trabalho. No portão da
escola encontrei a Isah, que logo quando me viu, correu e me abraçou.

- como você está, menino? O que aconteceu com você?

- estava doente, mas agora estou bem.

- sentimos saudades, principalmente o Felipe.

Caminhamos até onde estavam todos. Todos deram abraços e perguntavam
como eu estava, com exceção do Felipe, que me olhava ainda bravo.

- Oi. - disse ele sério

- Oi. - eu disse já meio triste.

- será que podemos conversar?

- sim, podemos.

Deixamos o pessoal e fomos pra um lugar afastado perto da quadra da
escola, lá não havia ninguém.

- eu te fiz alguma coisa?

- não, você não fez nada Lipe.

- por que você sumiu? Por que saiu daquele jeito da minha casa na
segunda? fui na sua casa, por que não quis me atender? Liguei varias vezes no
seu celular e ele só desligado.

- me desculpa, eu só não estava bem.

- me conta o que foi, você não gosta mais de mim, Thalles? - Felipe já
disse isso chorando, o que me deixou com o coração na mão. Eu não ia conseguir
terminar com ele ali.

- claro que te amo.

Demos um longo abraço, eu estava sentindo muito a falta dele.

- por que você fez isso, Thalles?

- Vamos esquecer isso. Só me faz um favor?

- por que esquecer? - disse ele confuso

- pode me fazer um favor?

- sim meu amor, tudo o que você pedir.

- Vamos nos encontrar somente no colégio.

- por que isso?

- os meus pais começam a desconfiar. (menti para ver se ele aceitava).
Por favor, te peço.

- Não vejo como seus pais desconfiam de nós dois, a gente nem da
bandeira.

- Felipe, só não quero dar motivo pra eles descobrirem.

- se é isso que você quer, tudo bem. Mas, por favor, não me abandone
mais.

Demos outro abraço e fomos ao encontro dos outros.

O final de semana passou e alguns dias da outra semana também, e,
todos dos dias, eu e o Felipe nos encontrávamos somente na escola. Aquela
situação não me agradava e ao Felipe menos ainda. Todos os dias ele me
questionava o porquê daquilo, por mais que eu quisesse me abrir, eu sabia que
não podia. Na quinta feira, na saída da aula, Felipe veio conversar comigo.

- Thalles, não agüento mais isso. Se encontrar apenas na escola. Poxa,
sinto muito a falta de nós dois.

- Eu também não agüento mais isso Lipe.

- Então vamos parar com isso, já perdeu a graça, se é que teve um dia.

- Poxa Felipe, eu sei que tá difícil.

- Então acabou isso.

- ainda não Lipe, por favor.

- poxa amor, por que? Não agüento mais todo esse mistério.

- me desculpa. - comecei a chorar.

- Não precisa chorar. Não vou mais te pressionar, mas tenta entender o
meu lado.

- eu entendo.

- tudo bem, não precisa mais chorar, vamos continuar assim, se é o que
você quer. Mas pelos menos almoça comigo hoje?

- Não posso ir na sua casa.

- Por que Thalles?

- Lipe. - disse meio tristonho

- tá, já entendi. Vamos no shopping então?

- tudo bem. - disse meio preocupado, mas com um sorriso no rosto.

Ligamos para nossos pais avisando que não precisava vir nos buscar.

Almoçamos no Shopping e depois fomos ao cinema fazer uma sessão
pipoca, e assistimos a dois ótimos filmes. Claro que nos namorávamos mais do
que assistíamos. No final da sessão pipoca, resolvemos voltar pra casa, Felipe
foi para a casa dele e eu fui para a minha. As coisas entre mim e o Felipe,
embora escondidas, começavam a caminhar e aos poucos eu começava a esquecer das
ameaças do Lucas, que eu já não o via há algum tempo. Cheguei à minha casa, era
umas sete e meia da noite, notei que tinha alguém em casa, quando entrei na
sala, Lucas estava sentado em um sofá com aquele sorriso cínico olhando pra mim
e meus pais sentados no outro sofá me olhando sérios.




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